...Um Mundo a Explorar
Numa conversa exploratória das brincadeiras que gastam o tempo em que a Vera não está ocupada nos trabalhos da escola ou com ela relacionados, da casa e da sua provisão pessoal, fiquei a saber que não gasta esse seu tempo livre muito preocupada com bonecas, brincadeiras de movimento e, consequentemente, viradas para o exterior da casa, jogos com amigos e passeatas, à laia do que fizeram as crianças com os onze anos dela durante milénios.
A Vera gosta muitíssimo de ver televisão, toda a televisão que quer e tem a qualquer hora à distância de um zaping, e de brincar com o telemóvel, com as configurações e reconfigurações que pode fazer neste aparelho verdadeiramente mágico para todos, colorindo-o com sons de todas as espécies, importando ou construindo-lhe ecrãs dignos dos mais belos planos de um qualquer badalado filme, compondo, recompondo, guardando como modelo, enviando e reenviando todo um mundo de mensagens construídas numa nova linguagem, indecifrável para os seus adultos e a esmagadora maioria dos outros adultos exteriores ao seu mundo familiar.
Para além daquelas duas actividades que ocupam uma boa parte do tempo verdadeiramente livre da Vera – tempo dela, para dele fazer uso discricionário e, concomitantemente, o que mais prazer lhe dá – passa, de quando em vez, pelo computador para jogar um pouco, mostrando, significativamente, alguma tristeza na expressão facial com que reagiu ao comentário lateral da mãe para referir o facto de não ter, ainda, acesso à Internet.
Foi, por fim, gostosamente que me falou do seu ipod, nano pelo tamanho, que não pela imensidão de músicas que pode guardar, artefacto que, não raras vezes, usa em simultâneo com um ou outro dos antes referidos, o que lhe agrada, sobretudo pela absoluta envolvência no mundo lúdico que a fascina e em que, assim, pode mergulhar completamente.
Todavia, o primeiro dos ofício da Vera é o de aluna. Como o é, também, o de todas as demais crianças portadoras deste background lúdico onde se espelha a era do digital em que estamos mergulhados de uma forma irreversível e que, por isso, temos de agarrar definitivamente.
A escola, mais do que não ignorar esta realidade, está obrigada a empenhar o melhor do seu imenso saber para agarrar com unhas e dentes estas novas vias de ensino-aprendizagem que lhe entram portas adentro e que, indubitavelmente, podem trazer estímulo e consequentes resultados ao seu desempenho.
Como projectar, contextualizar e integrar tudo isto?
Alberto Nídio
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
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